quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A IMPRESSIONANTE ASTRONOMIA DOS INDIOS BRASILEIROS


A constelação da Ema (Guyra Nhandu) fica na região do céu ocupado pelas constelações ocidentais do Cruzeiro do Sul, da Mosca, do Centauro, do Escorpião, do Triangulo Austral e de Altar. Fonte: http://fisica.ufpr.br/tupi/

O físico e astrônomo Germano Bruno Afonso, professor aposentado da Universidade Federal do Paraná, é um dos mais premiados cientistas brasileiros. Mestre em Ciências Geodésicas (UFPR), Doutor em Astronomia e Mecânica Celeste pela Universidade de Paris VI, Pós-doutorado em Astronomia pelo Observatório da Cote d'Azur (França), coordenador do curso de Pós-Graduação em Física da UFPR (1984/1990), Prêmio Jabutí de 2000 com o livro didático “O céu dos Indios Tembé”. Germano é também o único brasileiro especialista em Arqueoastronomia, uma ciência relativamente nova no Brasil.
Mesmo com esse currículo invejável, o professor tem sido vítima de preconceito, em virtude de sua dedicaçâo ao estudo da Astronomia dos índios brasileiros. Não são poucos aqueles que desconhecem o volume e complexidade dos conhecimentos que os nossos indígenas possuiam (e possuem) acerca dos fenômenos celestes.

Atualmente o professor Germano está vivendo e trabalhando na Amazônia, onde enriquece e também repassa seu rico cabedal de conhecimentos adquiridos ao longo de muitos anos de estudos e pesquisas. Apresentamos aos nossos leitores uma entrevista com o Professor Germano, concedida à jornalista e escritora Rosana Bond, e publicada no jornal A Nova Democracia, do Rio de Janeiro.
Esta entrevista do professor Germano está dividida em duas partes, cuja segunda parte apresentaremos aos nossos leitores e seguidores dentro de mais alguns dias.

-O que é a Arqueoastronomia?

É a disciplina que estuda os conhecimentos astronômicos legados pelas culturas dos povos antigos, tais como os mesopotâmios, os egípcios, os gregos, os maias, os incas e os índios brasileiros. Estuda, principalmente, os monumentos líticos orientados para os pontos cardeais e para as direçôes do nascer e o por do Sol, da Lua, ou de estrelas brilhantes, passíveis de medições astronômicas que teriam uma utilidade prática na determinação do calendário e da orientação. Além disso ela estuda a arte rupestre com possível conotação astronômica.
A observação do céu esteve na base do conhecimento de todas as sociedades antigas, pois elas foram profundamente influenciadas pela confiante precisão do desdobramento cíclico de certos fenômenos celestes, tais como o dia/noite, as fases da Lua e as estações do ano.
O homem pré-histórico logo percebeu que as atividades de pesca, caça, coleta e lavoura obedecem a períodos sazonais. Assim, ele procurou registrar essas flutuações cíclicas e utilizou-as, principalmente, para a sua subsistência.

-Como se originou a Arqueoastronomia?

Em 1740, William Stukeley, foi o primeiro a estudar as pedras orientadas de Stonehenge, (na Inglaterra), do ponto de vista astronômico. Ele percebeu que o eixo principal do monumento estava orientado na direção do nascer-do-sol, no solstício de verão.
A Arqueoastronomia desenvolveu-se com as pesquisas do astrônomo sir Joseph Norman Lockyer, fundador da conceituada revista revista britânica Nature. Ele ofereceu explicações astronômicas mais detalhadas sobre os megálitos de Stonehenge, e os menires (do baixo bretão men (pedra) e hir (longa), da Bretanha (França). A partir de 1970 a Arqueoastronomia começou a ser ministrada como disciplina em algumas universidades, sobretudo nos Estados Unidos e Europa. Atualmente as pesquisas nessa área se intensificam em todo o mundo.

-E a Arqueoastronomia no Brasil?

No Brasil, até o momento, lamentavelmente, sou o único astrônomo profissional que se dedica ao estudo sistemático da Arqueoastronomia. Em 1991, estudamos um monólito (pedra isolada) vertical, com cerca de 1,5 m. de altura, encontrado em um sítio arqueológico às margens do rio Iguaçu, perto de onde foi construida a hidrelétrica de Salto Segredo (Pr). Ele tinha quatro faces talhadas artificialmente, apontando para os quatro pontos cardeais. Em volta do monólito havia alinhamentos de rochas menores, que, aparentemente indicavam os pontos cardeais e as direções do nascer e do por-do-sol nas estações do ano.
Considerando que esse monólito talhado foi colocado na posição vertical, e que muitas tribos brasileiras usavam, e aínda usam o relógio solar, supus que o monólito poderia servir também como um relógio solar mais aperfeiçoado, pois poderia fornecer os pontos cardeais, mesmo na ausência do Sol.
Em 1996, durante pesquisas com a arqueóloga Maria Beltrão, encontramos em Central (Bahia) um monólito semelhante ao de Salto Segredo. Em 2001, na Ponta do Gravatá, Florianópolis, também encontramos um monólito de 1,50 m., com as faces talhadas para os pontos cardeais e rochas orientadas para o nascer e por-do-sol nos solstícios e equinócios.

Qual a importância dos achados brasileiros num contêxto mundial?

A Ilha de Santa Catarina (Florianópolis), assim como o resto do estado, é rica em vestígios arqueológicos, sendo a região mais interessante do mundo que conhecemos, do ponto de vista da Arqueoastronomia, em virtude da riqueza dos seus megálitos,do grego-mega (grande) e lithos (pedra), com orientação astronômica e de suas gravuras rupestres, do fácil acesso e da grande beleza do lugar. Desde outubro de 2001 estudamos algumas gravuras rupestres e alguns megálitos orientados de Florianópolis, juntamente com o antropólogo Adnir Ramos.

A que se deve essa riqueza de megálitos e gravuras rupestres em Florianópolis e região?

Nossa hipótese, formulada a partir das orientações astronômicas das rochas e das informações obtidas com índios de diversas regiões do Brasil, é que o local da maioria dos monumentos megalíticos orientados e das gravuras rupestres era utilizado como um centro xamânico relacionado com o sol e com as constelações mitológicas indígenas. É provavelmente o caso de Florianópolis e região.


O homem pre-histórico logo percebeu que as atividades de pesca, caça, coleta e lavoura obedecem a períodos sazonais. Assim ele procurou registra essas flutuações cíclicas e utilizou-as, principalmente, para sua subsistência.”

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