quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

“EU, VOCÊ E OS OUTROS”, A DICA DE NATAL DA EDITORA SEXTANTE

Uma das sugestões de Editora Sextante para este Natal e para as férias é o livro “Eu, você e os outros”, do jornalista Fernando Bond. O livro (92 páginas, R$ 14,90), lançado em todo o país com grande sucesso a partir da Bienal do Rio de Janeiro, em setembro, oferece uma oportunidade ao leitor de fazer uma reflexão sobre sua vida. Ao longo dos capítulos, o livro  encontra 14 pausas para pensar, através das quais o leitor pode escrever seu próprio roteiro e inclusive o seu próprio final.
“Eu, você e os outros” tem uma proposta: ajudar os outros pode ser o melhor caminho para ajudar a si mesmo.  “Mas, atenção, isso não significa que temos que abrir mão de nós mesmos. Pense num avião: qual é a orientação da equipe de bordo em caso de despressurização da cabine? Primeiro ponha a máscara de oxigênio em você, para depois ajudar os outros”, lembra o autor. Se você quiser saber mais ou até comprar o livro pela internet, acesse em www.esextante.com.br. Clique em Não Ficção e vá até a página 4. Ou então clique em Autoajuda e siga até a página 14.

Fernando Bond autografando seu livro na ultima Bienal do Rio de Janeiro



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CATARATAS DO IGUAÇU ATRAÇÃO MUNDIAL



Pedimos aos nossos seguidores e amigos do Caminho do Peabiru que não deixem de colaborar para eleger as Cataratas do Iguaçu como uma das 7 novas maravilhas da natureza. A região de Foz do Iguaçu, onde estão localizadas as mais belas cataratas do mundo, faz parte do fascinante Caminho do Peabiru, objeto das nossas pesquisas e estudos que tem a finalidade de recuperar, conservar e transformar em atrativo turístico este caminho com mais de 4 mil quilometros que unia oceanos Atlântico e Pacífico, integrando todos os povos indigenas no passado.

Acesse o site destinado exclusivamente para receber o seu voto e dos seus amigos.






A LENDA DAS CATARATAS

Conta-se que os índios Caigangues, habitantes das margens do Rio Iguaçu, acreditavam que o mundo era governado por M'Boy, um deus que tinha a forma de serpente e era filho de Tupã. Igobi, o cacique dessa tribo, tinha uma filha chamada Naipi, tão bonita que as águas do rio paravam quando a jovem nelas se mirava. Devido à sua beleza, Naipi era consagrada ao deus M'Boy, passando a viver somente para o seu culto. Havia, porém, entre os Caigangues, um jovem guerreiro chamado Tarobá que, ao ver Naipi, por ela se apaixonou.

No dia da festa de consagração da bela índia, enquanto o cacique e o pajé bebiam cauim (bebida feita de milho fermentado) e os guerreiros dançavam, Tarobá aproveitou e fugiu com a linda Naipi numa canoa rio abaixo, arrastada pela correnteza. Quando M'Boy percebeu a fuga de Naipi e Tarobá, ficou furioso. Penetrou então as entranhas da terra e, retorcendo o seu corpo, produziu uma enorme fenda, onde se formou a gigantesca catarata.

Envolvidos pelas águas, a canoa e os fugitivos caíram de grande altura, desaparecendo para sempre. Diz a lenda que Naipi foi transformada em uma das rochas centrais das cataratas, perpetuamente fustigada pelas águas revoltas.

Tarobá foi convertido em uma palmeira situada à beira de um abismo, inclinada sobre a garganta do rio. Debaixo dessa palmeira acha-se a entrada de uma gruta sob a Garganta do Diabo onde o monstro vingativo vigia eternamente as duas vítimas.



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

YTAPECU - RIO CAMINHO ANTIGO

Nossa postagem de hoje volta a ser  o trabalho elaborado pelo pesquisador Jose Alberto Barbosa, nosso colaborador de Jaraguá do Sul. Região esta que abriga o estuário do rio itapocu, por onde passava o Caminho do Peabiru, saindo da orla marítima de Santa Catarina e adentrando ao sertão.



Mas afinal de contas, para que abrir um caminho tão grande, em forma de vala, forrado de gramas, se não fosse para uma grande quantidade de gente usar e por muito, muito tempo? E, especialmente, quem foi o misterioso autor desse quase fantástico caminho? É do que tratarei a seguir, resumindo a lenda de Tumé (Sumé) e analisando-a criticamente. E demonstro que Tomé ou Tumé (Somé; Sumé) não houve tão somente um deles dentre os índios, porém, houve dois, um muito mais antigo, em tempos arcanos; o outro em tempos da abertura do Peabiru, talvez. Porisso que adiante, para facilitar a compreensão desse exame, apelo-os respectivamente Tomé I e Tomé II (ou Tumé I e Tumé II).


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

EU VOCÊ E OS OUTROS



Conforme anuciamos na ultima postagem, comesa a ser lançado a nivel nacional o livro EU VOCÊ E OS OUTROS, de autoria do jornalista e escritor Fernando Bond. O lancamento já ocorreu no Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis e devera ser lançado em outras diversas capitais e grandes cidades do pais. Estamos postando algumas entrevistas em televisão concedidas pelo autor do livro.



HISTÓRIA DO CAMINHO DE PEABIRU

O texto que estamos postando hoje tambem faz parte do livro História do Caminho de Peabiru, da jornalista e escritora Rosana Bond nossa colaboradora.


Para os interessados em adquirir o livro “História do Caminho de Peabiru” dirigir-se à Edirora Aimberê e Jornal a Nova Demecracia. Fones: (21) 2256 6303 e 2547 9385. site: http://www.anovademocracia.com.br/ e-mail: anovademocracia@uol.com.br / comercial@anovademocracia.com.br . Em Santa Catarina pelo telefone: (48) 3335 0150.

Uma assombrosa rede de vias

Como vimos antes, além de utilizarem trajetos pré-existentes abertos por outras tribos, os guaranis também construíram para suas migrações ou intercâmbios, uma enorme rede em todo seu vasto território paraguaio, brasileiro, boliviano, argentino, uruguaio.

Muitos desses caminhos, porém, não eram simples trilhas abertas na mata, conforme Moisés Bertoni. Possuíam uma característica muitíssimo interessante, de serem rotas gramadas, cuja abertura e manutenção envolviam uma notável criatividade.



Eis o que contou o cientista:

“Tinham os guaranis grandes vias de comunicação que lhes permitiam manter-se facilmente informados de tudo o que ocorria nas diferentes regiões da dilatadíssima superfície que ocupavam.

O sistema (de construção de caminhos) era muito fácil e engenhoso.

Abriam picada no mato e depois de limpá-la com certa prolixidade, a semeavam de trecho em trecho com sementes de duas ou três espécies de gramináceas, especialmente uma cujos brotos se propagam com suma facilidade.

As plantas que nasciam logo cobriam completamente o solo e podíam impedir o crescimento de árvores e ervas; sem elas a picada ficaria oculta.

Essas gramináceas tão bem escolhidas tinham a especialidade de ter sementes glutinosas ou sedosas, de tal maneira que grudavam espontaneamente nos pés e pernas dos (índios)viajantes.

Bastava plantá-las a grandes distâncias, de légua em légua por exemplo, para que em pouco tempo, um ou dois anos talvez, ficasse o caminho atapetado por uma cobertura que impedia o crescimento de arbustos e ervas daninhas que pudessem obstruí-lo”. (126)

Abrindo um parêntesis: é curioso notar que nos anos 1600 e 1700, os jesuítas informaram que o longo caminho entre São Paulo e o Paraguai, que disseram ser chamado de Peabiyu ou Peabiru, possuía características semelhantes, ou seja, era forrado por gramíneas.

Voltemos ao que se dizia.

Segundo o cientista suíço, tal método possibilitou aos guaranis a implantação de uma malha de caminhos “assombrosa”:

“Devido a esse procedimento, os povos guaranis puderam abrir vias de comunicação verdadeiramente assombrosas.

Uma dessas vias passava do Guairá (Obs: Grande área que abrangia parcela do Paraguai, toda a faixa oeste do Paraná, e também a zona centro-norte e centro-sul do estado) à costa do Brasil.

Outra saía da costa de Santa Catarina e chegava ao Salto Iguaçu. Outra, desde o Salto Iguaçu passava à região do Guairá. Uma continuação da mesma, desde o Salto Iguaçu, chegava a (ilha) Parehá para ir à serra do Tape, onde havia outra nação guarani confederada.

Da serra dos tapes seguia até a costa do mar, como outra que provavelmente saía da Ilha dos Patos (Obs: Aqui ficamos em dúvida se ele referia-se a Florianópolis/SC ou lagoa dos Patos/RS ).

Desde Parehá, saía outra via que chegava seguramente até perto de Assunção, provavelmente por Lambaré, centro dos carios.

Por fim, outra via, de Parehá ou do Iguaçu saía tomando uma direção Nordeste, passava a visitar os tobatins. E cruzando os territórios dos tarumás punha seguramente os itatins em contato com todo o resto da confederação (guarani)”. (127)


Para que se entenda melhor a descrição de Bertoni, esclarecemos:


Tapes – Foi o nome que se deu aos guaranis que habitavam entre os rios Grande e Uruguai, abrangendo o interior do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e o norte do Uruguai.


Carios – Foi o nome que se deu aos guaranis que habitavam uma faixa nas confluências dos rios Ypané, Jejuí, Manduvirá, Pilcomayo com o rio Paraguai, incluindo Assunção e áreas ao sul da capital paraguaia. Ocupavam também as praias do Atlântico, onde foram chamados pejorativamente de “carijós” (como as galinhas), no século 16, pelos invasores europeus e mais tarde pelos bandeirantes.


Tobatins – Foi o nome que se deu aos guaranis que habitavam a zona do rio Manduvirá, no Paraguai, limite entre os departamentos de San Pedro e Cordilheira.


Tarumás – Foi o nome que se deu aos guaranis que habitavam as serras de San Joaquin e matas do rio Jejuí, no Paraguai.


Itatins – Foi o nome que se deu aos guaranis que habitavam ao norte do rio Manduvirá, na região dos rios Ypané, Apa e Miranda, hoje áreas paraguaia e brasileira (Mato Grosso do Sul).


Além dessa versão de Bertoni sobre a rede terrestre guarani (Peabiru e demais caminhos) existem várias outras.

Cronistas da época da Conquista e estudiosos modernos apresentaram trajetos diversos, principalmente para o Peabiru. Entre eles estão alguns incompletos ou contraditórios, fato que transformou o assunto num quebra-cabeças complicado de montar.


(Obs: Sobre esses trajetos, ver Volume 2, que deverá ser lançado em 2012)


Embora tenham se destacado por suas rotas terrestres como vimos, os guaranis também utilizaram caminhos fluviais. Navegavam por trechos dos rios Paraguai, Paraná, Uruguai, Prata e vários de seus afluentes.

Se dizemos “por trechos” é porque existiam tribos adversárias em diversos pontos desses rios, que impediam ou dificultavam a passagem dos guaranis.

Estes eram bons canoeiros, mas não chegaram a ter a fama dos paiaguás por exemplo, tidos como “donos” do rio Paraguai, como disse Gonzalez Torres:


“(Os Paiaguá) paleolíticos, fundamentalmente pescadores, grandes canoeiros, belicosos, de grande mobilidade fluvial, também caçadores, eram os donos do rio Paraguai desde a desembocadura do Bermejo no sul, até a terra dos Guasarapo no norte (do território paraguaio)”. (128)


O domínio paiaguá sobre grande parte do rio poderia ser um dos motivos pelo qual o Peabiru, na zona paraguaia, parece ter sido um caminho preferencialmente terrestre e não fluvial.


O território nas pernas

Como já dissemos os guaranis têm, até os dias de hoje, um profundo respeito pelos caminhos. O “caminho”, o “caminhante” e o “caminhar” são realidades e conceitos preciosos dentro do seu complexo mundo cultural.

Tanto que eles, notadamente os mbyás, orgulhosamente se autodefinem como tapejaras.

Esta palavra algumas vezes aparece traduzida como “povo sempre em movimento”.

Mas Werá Tupã (Leonardo) deu-me outra explicação. Foi na noite de 14 de outubro de 2006, na aldeia de Imaruí, litoral sul de Santa Catarina. Eu e a amiga Eliana Passos havíamos levado Werá de carro àquela aldeia, onde ele desejava visitar alguns familiares, e fomos convidadas a dormir lá.

Nos sentimos honradas, pois nunca ou quase nunca os guaranis permitem que juruás pernoitem em suas comunidades. Nós e o pequeno Victor, filho de Eliana, fomos alojados num rancho, ao lado do rio dos Inácios. A construção pertencera ao antigo dono daquelas terras, que há alguns anos foram adquiridas pela Funai.

Quando anoiteceu, uma fogueira foi acendida no centro do rancho e logo surgiu o pajé Timóteo, com o cachimbo tradicional (petynguá) e a cuia de chimarrão. Sentados em volta do fogo, fumando e tomando o mate, conversamos por horas.

Foi então que perguntei a Werá Tupã o que significava a palavra e porque os guaranis se definiam como tapejaras.

E ele respondeu o seguinte:


“Nós somos tapedjá porque sempre estamos no caminho.

Falam muita coisa, mas de verdade essa palavra significa ‘guardião dos caminhos’, ‘guia dos caminhos’, ou ‘dono dos caminhos’.

Não quer dizer só guia de estrada, mas também do caminho espiritual.”


Apesar de curto o esclarecimento de Werá reforçou, para mim, a compreensão de como o vínculo guarani com os caminhos é importante, visto que se consideram seus “guardiões”.

Mais que isso: a tribo inclusive sacraliza as caminhadas, que chama de oguatá.


“Oguatá, a caminhada, é a representação do percurso da reatualização do mito original da fundação do mundo mbya (guarani) e de seus heróis fundadores : a existência do mundo terreno se faz e é feita pelo movimento, nomeando o espaço, rompendo o território, redescobrindo e reconquistando o mundo.

A migração é a celebração e a lamentação dos mbya sobre o mundo natural e humano. Um rito de identificação de um povo que não pára, um povo que caminha no espaço vivenciado como um campo de constante travessia, movimento e reciprocidade, uma comunicação de palavras, bens, mulheres e homens que circulam ininterruptamente”. (129)


A antropóloga Flávia de Mello diz que nas caminhadas, até os dias atuais, está um desejo da tribo de imitar os deuses, além de ser um reforço aos poderes dos xamãs:


“Oguatá Porã significa literalmente boa caminhada. O caminhar tem uma conotação cosmológica fundamental para os Guarani.

(...)É a forma com que os deuses construíram o mundo, e o caminhar pelas distintas aldeias, reconstruindo suas casas, roças, suas vidas enfim, reproduz essa conduta (das divindades).

(...)Em sentido mais amplo, oguatá é uma metáfora para ‘viver’. As oguatá, ato de caminhar, ou as ‘viagens’, são ações fundamentais para a aquisição e a utilização dos poderes xamânicos”. (130)


De acordo com Dorothea Darella, para os guaranis as caminhadas, as migrações, os movimentos, “fazem parte de sua noção de mundo”. (131)

Juan Manuel Prieto, no artigo que me deu, mencionado antes, dizia que uma das razões que levavam os guaranis a revoltarem-se contra os jesuítas, era que estes os obrigavam a ficar dentro das reduções (criadas a partir dos anos 1600), proibindo-os de caminhar.

Egon Schaden, por sua vez, afirmava: “O guarani tem seu território nas pernas”. (132)

Imagine-se assim a importância que os caminhos, principalmente o Peabiru, teve para um povo como esse.



Os guerreiros vigiam o caminho

“Quando Nhanderu fez o mundo, ele fez também os caminhos”, disse um guarani a Maria Inês Ladeira. (133)

Flávia de Mello, para sua tese de doutorado, ouviu coisa parecida sobre a ligação entre os deuses e os caminhos.


“As narrativas de pessoas Chiripá e Mbyá com quem trabalhei indicaram que o ‘caminhar’ é uma conduta própria dos Guarani, preconizada pelos deuses, e que em si já consiste numa conduta sagrada”.


A presença constante nas rotas terrestres da América do Sul, desde milênios atrás, fez dos guaranis excelentes caminhantes. A tribo tem “etos de oguatá e seus heróis culturais são heróis caminhantes”, dizia Branislava Susnik. (134)

Esses laços estabelecidos com os caminhos fizeram surgir hábitos, costumes e técnicas muito interessantes.

A antropóloga Deise Montardo, por exemplo, fez em 1996 uma caminhada com um grupo guarani e viu o uso de regras especiais de etiqueta.


“Quando estive com colegas na aldeia Peperi, Misiones (Argentina), em 1996, caminhamos desta até a aldeia Barra Grande, distante cerca de duas horas de caminhada.

Quando estávamos próximos, o cacique que nos acompanhava parou de caminhar e avisou-nos que a partir daquele momento não deveríamos mais dirigir a palavra a ele e sim ao cacique da aldeia à qual nos dirigíamos.

Continuamos caminhando e ele foi tocando o popygua (Obs: Objeto composto por duas pequenas varas amarradas), avisando sobre nossa chegada”. (135)


Tal aviso, segundo Deise, se devia ao fato de que “as aldeias são guardadas por soldados que fazem a vigilância”. Não se tratam de soldados brancos, mas sim de guerreiros indígenas treinados na xondaro, a luta marcial da qual já falamos.

Alguns amigos guaranis me confirmaram que também em muitas aldeias brasileiras “os xondaro fazem a guarda dos caminhos” que levam a elas.

Nos últimos anos, em pelo menos duas oportunidades, ao visitar aldeias, percebi que já era esperada antes mesmo de desembarcar do automóvel. Não vi os guardiões, mas eles certamente avisaram a comunidade sobre minha presença na trilha de acesso.

É fascinante constatar a preservação do hábito de proteger os caminhos (e consequentemente, as aldeias), porque isso vem de séculos atrás, de tempos pré-colombianos. Foi o que disse Branislava Susnik.

Relatou ela que, antes da chegada de espanhóis e portugueses, os guaranis não permitiam que nenhuma outra tribo penetrasse em seus caminhos e territórios onde houvesse aldeias, se não tivesse um salvo-conduto, um passe livre, chamado de táhaé.


“Em todo o habitat guarani, os limites da tekoha (aldeia)eram infranqueáveis e se necessitava, para atravessá-los, o táhaé do chefe comunal (cacique)”. (136)


Com a invasão européia, no século 16, os guaranis se viram obrigados a liberar o táhaé aos espanhóis. Mas garantiram um acordo, que funcionou parcialmente nas primeiras décadas de 1500, para ser totalmente descumprido pelos invasores na segunda metade do século.

O trato era no sentido de que se os castelhanos evitassem cruzar por seus caminhos e aldeias (tekoha), eles, os guaranis, lhes levariam alimentos e outros produtos onde quer que precisassem.


“A entrega dos víveres era um modo de evitar a entrada direta (dos espanhóis) na tekoha e de manter longe o oguatáva ocasional (Obs: Caminhante branco ou indígena, de outro povo).

Por esta mesma razão, os víveres eram entregues, nos primeiros tempos, fora do limite da tekoha.

Esta tática circunstancial de uma defesa pacífica não caracterizava somente os Guaranis mas também os Arawak, os Xarayes e os neolíticos amazônicos em geral.

(...)Estes abastecimentos logo tomaram outro perfil, tornando-se doações forçadas e repetidas (aos espanhóis) que diminuíram a potência do depósito alimentar (guarani) e influíram na estabilidade precária da economia comunal”. (137)


A partir disso se poderia chegar a uma observação divertida.

O governador Cabeza de Vaca, no diário da viagem que fez de Santa Catarina a Assunção em 1541, falava vaidosamente do respeito e admiração que os guaranis tinham por ele.

Pois, dizia, em todo o trajeto os índios apareciam no caminho (Peabiru) para entregar comida a ele e à sua tropa. Mal sabia Dom Vaca que o que eles queriam mesmo era mantê-lo bem longe dos seus quintais...

Falando em coisas divertidas, os guaranis, como especialistas em caminhos e caminhadas parecem ter possuído truques peculiares para despistar perseguidores.

Bertoni, por exemplo, disse ter conhecido índios guaranizados, conhecidos como “bugres”, que costumavam andar pelos caminhos... de ré !

A coincidência é que há uma lenda guarani e tupi sobre o Pita-Yovai (Paraguai) e o Caipora/Curupira (Brasil), espécies de “duendes” que percorriam os caminhos da mata andando de costas, para confundir as pessoas.

No caso do Pita-Yovai, a figura tem 2 calcanhares em cada pé . Narra Lopez Breard :


“É indubitavelmente um mito que funda suas raízes na época pré-colombiana.

(...) Sua característica mais notável é a de ter, ao invés de dedos, outro calcanhar. O que torna impossível seguir seu rastro ou a direção que toma.

(...) É um mito que inquestionavelmente integra a constelação guaranítica, ainda que podemos dizer dele que está em via de extinção (Obs: Breard se refere a 1995)”. (138)


Sobre os índios que andavam pelos caminhos de ré, contou Bertoni:


“Estou convencido de que o caso do Puihta-Yovai não é mera superstição, ou lenda completamente infundada.

Além de tudo, é bastante raro que uma crença popular muito arraigada não tenha algum fato real como base e origem.

Pois bem, os ‘bugres’, quando se vêem muito acossados pelo inimigo e querem despistá-los, dão uma tal forma ao pé, em seus passos na caminhada, que resulta difícil saber qual é a direção que estão tomando”. (139)


Quanto ao Curupira guarani e tupi, além de andar de costas, curiosamente seria também o protetor de “um certo caminho” que levava a altas montanhas, segundo escreveu o padre José de Anchieta em 1560. Seria o Curupira um guardião do Peabiru ?


“Costumam os índios deixar em certo caminho, que por ásperas brenhas vai ter ao interior das terras, no cume da mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras cousas semelhantes, como uma espécie de oblação (ao Curupira)”. (140)


Não consegui descobrir entre meus amigos guaranis se, antigamente, tal prática de andar de costas foi verdadeira. À minha pergunta, recebi apenas sorrisos travessos...

Porém outros hábitos, que nada têm de folclore, foram seguramente criados para as caminhadas e os caminhos, os quais perduram até a atualidade.

Entre eles podemos citar os sonhos de decifração obrigatória antes das viagens (sem interpretar seus sonhos, o caminhante guarani não entra no caminho); o trançar e enfeitar os cabelos pelas mulheres; o amarrar do tetymakuá (espécie de cordão feito com cabelos femininos) na panturrilha pelos homens; o levar sempre consigo o popyguá de proteção.


quarta-feira, 6 de julho de 2011

HISTÓRIA DO CAMINHO DE PEABIRU

 A partir de agora estaremos postando trechos do livro “História do Caminho de Peabiru”, obra da escritora e jornalista Rosana Bond, uma das vozes mais ouvidas nas pesquisas sobre o fascinante Caminho de Peabiru, alvo de estudos e pesquisas de antropologos, arqueologos e historiadores do Brasil e vários outros países interessados na recuperação e conservação de trechos desse Caminho pre-colombiano de 4 mil km. por onde se movimentavam nações indigenas predecessoras da atual civilização.

Rosana Bond nasceu em 1954 em Curitiba e criou-se em Londrina - Pr onde iniciou sua carreira de jornalisa. Trabalhou em vários órgãos da imprensa brasileira, como Folha de Londrina, O Estado de São Paulo, Tribuna da Bahia, Jornal de Brasília, e TV Catarinense.
Tem 14 livros publicados, entre eles “Nicarágua – A bala na agulha”, “A civilização Inca”, “Sendero Luminoso – Fogo nos Andes”, “A saga de Aleixo Garcia”, “Peru – Do Imperio dos Incas ao Imperio da Cocaina”. Rosana também é escritora de obras infanto-juvenis, e é tida como nome de peso no segmento escolar brasileiro. É membro do Instituto Histórico e Geografico de São Paulo, e reside atualmete em Florianopolis - SC.

Para os interessados em adquirir o livro “História do Caminho de Peabiru” dirigir-se à Edirora Aimberê e Jornal a Nova Demecracia. Fones: (21) 2256 6303 e 2547 9385. site: www.anovademocracia.com.br e-mail: anovademocracia@uol.com.br / comercial@anovademocracia.com.br . Em Santa Catarina pelo telefone: (48) 3335 0150.



HISTÓRIA DO CAMINHO DE PEABIRU





quarta-feira, 15 de junho de 2011

RESGATE HISTÓRICO E CULTURAL

Em 16 de Abril do corrente ano foi realizada a II Peregrinação na Rota Simbolica do Caminho do Peabiru, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas de Campo Mourão - Pr., importante ligação com o ramal do Caminho que vinha de Sao Paulo. Este roteiro cobriu o trajeto Campo Mourão - Peabiru Corumbatai do Sul num total de 32km.   




A etnia Guarani esteve presente na II Peregrinação na Rota Simbolica do Caminho do Peabiru.

A Caminhada contou com dezenas de participantes de diversos municipios paranaenses.

.


Recebemos e estamos postando um breve trabalho didático da índia Guarani Jaxy (Nilsa de Oliveira), especialista em Arte e Educação do Núcleo Estadual de Educação Indígena – Coordenação de Londrina – Pr.
De agora em diante estaremos postando regularmente matérias e informações que tratem de assuntos indígenas, em especial da comunidade Guarani, cujas aldeias se interligavam ao longo do Caminho do Peabiru.
A apresentação desse trabalho veio por intermédio da nossa amiga e colaboradora Sinclair P. Casemiro (Campo Mourão – Pr), pioneira nas atividades de resgate e preservação do Caminho do Peabiru, que além do seu extenso cabedal pedagógico e intelectual, dedica boa parte do seu tempo aos estudos da civilização indígena no Brasil e países vizinhos, em particular da etnia Guarani. 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

ITAPOCU E PEABIRU (parte 04)

Com a postagem da parte 04 estamos encerrando uma participação importante do amigo José Alberto Barbosa, de Jaragua do Sul - SC. O trabalho até agora publicado é uma parte que se refere ao Caminho do Peabiru dentro do livro Ytapecu - Rio Caminho Antigo, de autoria do citado José Alberto Barbosa. Possiveis interessados em ler a obra completa podem entrar em contato com cadernosdailha@yahoo.com.br .




 
Aqui visitou-me o Pe. João Alfredo Rohr, S.J., depois de trocarmos cartas quando eu era promotor de justiça. A seguir fui visitá-lo no seu Museu do Homem do Sambaqui, cujas portas e coleções ele abriu-me com gosto. Eu tinha lhe enviado notícia de uma itacoatiara desconhecida por ele em uma ilha perto da Ilha de Santa Catarina, creio que a Ilha das Aranhas. Visitando-me na Promotoria de Justiça em Jaraguá do Sul, Pe. João Alfredo Rohr, S.J., o afamado arqueólogo, manteve comigo longa conversa. Andava por aqui em busca de cavernas; estava à cata de bons sítios para pesquisa. Sua morte veio a tolher sua iniciativa, porém, a retomada das pesquisas no Vale do Itapocu – que, creio, se cingiram aos sítios perto da faz -, é algo de imperioso, até porque notícias de concheiros encontráveis na planície na região de Guaramirim – disse-me o engenheiro florestal Dr. Ingo Robl – induzem a presença de sambaquis muito afastados da posição atual do oceano.

terça-feira, 17 de maio de 2011

ITAPOCU E PEABIRU (parte 03)


Estamos postando a continuação do trabalho do pesquisador José Alberto Barbosa, de Jaraguá do Sul - SC intitulado Ytapecu, Rio Caminho Antigo, onde o autor se refere fartamente sobre o Caminho do Peabiru.

 

1 . Seja como for, o Caminho do Peabiru, pelo menos em tempos liminares aos históricos, tinha o curso do rio Itapocu como seu ramal mais importante; e isso sabemos porque o mais usado ou pelo menos o mais referido pelos índios da costa, nesse tempo de virada histórica, além de, vindo por ele, se topar nele com índios caminheiros pelo sertão e, por via de conseqüência, ser o roteiro mais buscado também para as primeiras entradas européias no sertão planaltino. O trecho que, vindo da Ilha de Santa Catarina (talvez desde a Ponta de Massiambu) e bordejando o litoral catarinense, entrando pela foz do rio Itapocu, subindo pelo curso do rio – e provavelmente por pelo menos uma das margens -, daqui pegando a Serra do Mar e indo, no Paraná, encontrar-se com o corpo principal do afamado caminho, vindo da terra dos paulistas. Isso se o Vale do Itapocu não fora em si mesmo parte do próprio Caminho Tronco do mesmo Peabiru.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O MISTERIOSO PEABIRU (Parte 02)

Estamos postando a continuação do trabalho do pesquisador José Alberto Barbosa, de Jaraguá do Sul - SC intitulado Ytapecu, Rio Caminho Antigo, onde o autor se refere fartamente sobre o Caminho do Peabiru.



5 . Pessoalmente, como já o disse, não creio que o Peabiru seja um caminho aberto pelos incas. Pode, é claro, ter acontecido apenas que, durante o Império dos incas, estes o utilizaram, o conservaram, mesmo o ampliaram. Mesmo podem e devem ter por ele feito incursões pelas terras brasileiras, inclusive guerreiras, talvez mesmo punitivas. Mas não foram seus autores originais. Mais provavelmente, a meu ver, os tupis e guaranis, que inclusive disseram não haverem sido seus construtores, utilizaram intensamente o vasto sistema de estradas pré-colombianas estabelecido por algum outro povo, num passado não muito remoto e daí que foi encontrado ele assim, em pleno uso por referidas Nações indígenas, conforme testemunhos históricos. Tanto usavam tais vias que para muita gente do povo foram eles os autores de tais caminhos, tanto do grande Peabiru quanto dos caminhos menores, seus ramais, gerando-se uma tradição a respeito. Assim é que, por exemplo, na excelente obra “No tempo dos Bandeirantes”, Belmonte fala da antiga “Trilha dos Tupiniquins” [Uso maiúsculas para ressaltar a importância do nome], apresentando dela também um mapa [P. 112] e afirmando que era caminho perigoso que, de Piratininga, demandava o sertão, varando o Paranapanema, alcançando quase que as cabeceiras do Piqueri [Obs: rio Piquiri, no Estado do Paraná], dali rumbeando para Assunção, no Paraguai [In opus cit., Melhoramentos, 4ªed.; ano ?]. A obra referida é lindamente ilustrada pelo próprio autor. Belmonte é o conhecido apelido artístico de Benedito Carneiro Bastos Barreto, consumado desenhista e caricaturista, famoso pela criação do personagem “Juca Pato” e ilustrador de diversas revistas – como a Fon Fon – e livros, como obras de Monteiro Lobato. Não apurei a data da edição supra do seu livro. Em edição primitiva, parece que a obra foi apelada “História do bandeirantismo paulista”. Belmonte, nascido em 1896, faleceu em 1947. Ora, o roteiro que dá Belmonte, é justamente, pelo menos em parte, o tronco principal do sistema do Peabiru. No mapa que dele traça, o autor diz que se tratava da possível “trilha dos tupiniquins”, segundo um esboço que dela fizera Theodoro Sampaio. E nos recorda ele que ainda em 1604, soldados espanhóis, vindos por mar desde a Província de Guaíra, se dirigiram a São Paulo de Piratininga, a pleitear ali que se enviasse socorro por terra, por referida trilha indígena, ao povo de Vila Rica, situada no atual Estado do Paraná, nas cabeceiras do rio Ivaí, eis que os dali, muito isolados de Ciudad Real, passavam extrema necessidade para sua sobrevivência. E foram eles por mar porque Sua Majestade o rei de Portugal proibira o uso de referida trilha aos estrangeiros, sob pena de morte. E cita Belmonte, as seguintes palavras registradas na época: “... los portugueses es gente prohibida no consentiré se ande aquel camino hasta ver lo que Vuestra Magestad es servido se haga no emergente que los de Guairá lo desean mucho” [In opus cit., p. 114]. Diz ainda Belmonte que a presença de soldados espanhóis ali, na Vila de Piratininga, foi assinalada pela Câmara local, em sessão do dia 22.11.1603. Portanto, creio se deva corrigir o ano apontado por Belmonte: ao invés de ida para lá em 1604, terá sido a chegada deles em novembro de 1603. Em 1604, portanto, estariam ainda ali; e se o socorro foi por terra, pelo Peabiru, por ali também teriam talveza retornado os arrojados heróis de Castela. De fato, diz Belmonte, os paulistas, generosos, enviaram os socorros solicitados, porém, debatendo muito o assunto, pelo respeito reverencial à orderm do soberano e por temor à punição referida; isso não obstante o fato de que, em 1604, o Brasil já estava sob o poder do rei espanhol, o qual, de 1580 a 1640, foi senhor dos dois Reinos. Observo que, no litoral paulista, não apenas São Vicente e Cananéia são pontos que devam nos interessar como iniciais ou terminais dos peabirus. Peruíbe, por exemplo, será o mesmo que Peruípe, Peruype e, assim, Rio do Peru ou ainda Rio do Caminho do Peru [O “pe” sufixal pode ser partícula reforçativa de “y (rio), como pode significar caminho]; também de Santos se diz que saía o Peabiru, rumo ao Planalto de Piratininga. E as descobertas arqueológicas mais recentes devem ser devidamente consideradas; assim é que Carlos Fausto, no seu livro “Os Índios antes do Brasil” [Jorge Zahar Editor, Rio, 2000], nos demonstra como a construção de estradas era uma prática defensiva dos índios kuikuro, da Amazônia; realmente, de tal cultura é o sítio pré-histórico fortificado Kuhikugu, o qual apresenta duas valas defensivas cercando totalmente a aldeia; e partindo do centro desta, de modo eferente, esparramam-se quais os cinco dedos de uma mão humana, cinco estradas, largas, pertindo o rápido deslocamento de troços de guerreiros armados para fazer frentes a invasões eventuais. As estradas 1,2,3 e 4 demandam do centro às valas defensivas, evidenciando suas finalidades; a 5 ruma para um grande buritizal que contorna parcialmente o acampamento fortificado em questão. Após a mata, existem duas lagoas, a Lamakuka e a Kuhikugu, da qual a fortificação ganhou o nome. Os fossos defensivos são uma obra extraordinária para um povo tão sem tecnologias, pois possuem 10 m de largura por 1m a 3m de profundidade, isso numa imensa extensão de dois quilômetros em derredor das partes habitadas. Somente uma permanente ameaça, muito grande e grave, justificaria uma tal obra de engenharia.

terça-feira, 26 de abril de 2011

PEBIRU É TEMA DE CURSO EM SÃO PAULO

PROGRAMA DO CURSO:

1ª aula – 3 de maio de 2011, 20h

Malcolm Forest, Historiador e Produtor Cultural
Abertura – Visão Geral dos Caminhos Ancestrais Brasileiros

Professor Hernâni Donato, Presidente da Honra do IHGSP
Sumé e Peabiru. Assombros dos Primeiros Descobridores. Perguntas e Respostas. Projetos

2ª aula – 10 de maio de 2011, 20h

Julio Abe, Arquiteto, Museólogo, Fotógrafo e Produtor Cultural
Os Velhos Caminhos do Mar. Perguntas e Respostas. Projetos

3ª aula – 17 de maio de 2011, 20h

Malcolm Forest, Historiador e Produtor Cultural
Os Caminhos do Ouro, dos Diamantes e dos Escravos, Minas e Bahia. Perguntas e Respostas. Projetos

Luiz Galdino, escritor e professor, com formação em Artes, membro do IHGSP
Incas no Brasil e as Sete Cidades de Pedra do Piauí. Perguntas e Respostas. Projetos

4ª aula – 24 de maio de 2011, 20h

Rosana Bond, Jornalista, Escritora e Pesquisadora
Aleixo Garcia e o Peabiru no Sul Brasileiro, Paraguai, Bolívia, Peru. Perguntas e Respostas. Projetos

Malcolm Forest, Historiador e Produtor Cultural
Encerramento. Avaliação. Perguntas e Respostas. Conclusões

Período: dias 3, 10, 17 e 24 de maio de 2011 (4 aulas, às terças-feiras das 20 às 22 horas).
Taxa de inscrição: R$ 200,00 (única).
Inscrições e informações pelo e-mail: eventoscbeal@memorial.sp.gov.brou telefone (11) 3823-4780, de segunda à sexta, das 10 às 18 horas, no Anexo dos Congressistas / CBEAL (Centro Brasileiro de Estudos da América Latina) – Memorial da América Latina.
Vagas limitadas.

.

O MISTERIOSO PEABIRU

Estamos dando prosseguimento na apresentação do trabalho de pesquisador Jose Alberto Barbosa, de Jaragua do Sul – SC, intitulado Ytapecu rio Caminho Antigo iniciado na postagem anterior. A citada obra se refere à importância do rio Itapocu dentro do sistema viário do Caminho do Peabiru. Nas próximas postagens estaremos dando continuidade a este trabalho.


 
1 .         Na história dos povos primitivos, pouca coisa há mais fascinante que seus caminhos e os monumentos que às margens deles deixaram. Os incas foram exemplares, com suas estradas calçadas sobre os altiplanos, varando os Andes num sistema vasto e de proporções continentais. Leia-se a respeito a excelente obra do etnógrafo americano Victor W. von Hagen, intitulada “A Estrada do Sol” [Melhoramentos, S. Paulo] e na qual ele narra sobre a maravilhosa e produtiva expedição iniciada em 1952 e que chefiou num imenso percurso e levantamento de tais estradas incas, trabalho esse do qual participou sua esposa brasileira Sílvia von Hagen, aventura a que se puseram seis pessoas – quatro homens e duas mulheres – e na busca do que o autor refere – mediante citação - como os mais estupendos e mais úteis artefatos feitos pela mão humana. E quem vê mesmo hoje as maravilhas desses caminhos de pedra nos planaltos, que vão serpeando por encostas íngremes, percorrendo os vales verdejantes ou desérticos e arremessando-se sobre rios e precipícios em pontes arrojadas e por vezes de bases ciclópicas, haverá de dar toda razão ao americano por encher-se de espanto. Pois bem, com o antiqüíssimo e transcontinental caminho apelado Peabiru, dá-se o mesmo. É causa do mesmo espanto e devotada admiração. Porque mesmo sem o luxo do sistema viário inca da região andina, mesmo sem os seus recursos técnicos, suas fortificações, seu aproveitamento de rochas para embasamento de pontes, mesmo sem nada disso o simplezinho Peabiru, no geral uma trilha melhorada avançando pelas matas e campos, contornando cuidadosamente toda e qualquer colina, caminho pois de gente sem pressa, vai varando toda a América do Sul na sua largura e em várias direções, passando por vários países, furando matas, correndo por campos nativos e se sobrepondo a pantanais – onde estacas o assinalavam, face as cheias - e assim vai ligando Atlântico e Pacífico. Não admira, pois, que também foi e é ele, assim, motivo de surpresa e encantamento, lendas e histórias e, tanto quanto o caminho, igualmente o mistério e a beleza que cerca a figura do seu lendário criador, Tumé, mais costumeiramente apelado Sumé ou Zumé por dificuldade de articulação da pronúncia tupi-guarani.

2 .        Apreciemos, preliminarmente, ainda que a grosso modo, roteiros peabiruanos, para se ter uma idéia da extensão geográfica abrangida. Partindo de Cananéia [SP], aquilo que se julga em geral como sendo um tronco central – e contexto que se deva dizer assim – adentrava para o interior numa direção quase reta a partir de Jurubatuba, cruzando o rio Tibagi perto de suas nascentes, varando as águas do rio Ivaí, prosseguindo até pouco antes do ponto onde o Piquiri tributa o rio Paraná, ali inflectindo para sudoeste, cruzando o Piquiri, a seguir rumbeando para oeste, transpondo o rio Paraná bem abaixo de Guaíra [PR], adentrando pelo Paraguai, prosseguindo até à nascente do rio Jequi em tal país, seguindo a sul deste, sempre na direção oeste e, perto do curso do rio Paraguai, então inflectindo para o sul, acompanhando as águas daquele a boa distância e, então, rumando para Assunção no Paraguai. Daí, ganhando o chão boliviano não longe da região da famosa e outrora riquíssima mina de prata de Potosi, diz-se que dali, fazendo junção com estradas incas, alcançava a capital inca, a cidade de Cuzco e, pelas vias daquele Império, alcançava, então, as águas do Pacífico. Pelo menos em termos de extensão, um caminho admirável. Outro caminho, muito longo, partia de São Vicente [SP], indo por Santo André, Itu e Botucatu, continuando a seguir, mantendo sempre boa distância as águas do rio Tietê, até encontrar o rio Paraná. Dali, hipoteticamente, deveria prosseguir retamente, varando o Mato Grosso do Sul, atravessando o Pantanal, cruzando o rio Miranda e depois fazendo junção com outro imenso ramal que ali chega, em roteiro reto e vindo desde o rio Piquiri, no Estado do Paraná. Aliás, desse caminho que nasce em São Vicente, um ramal que nasce em Itu vai até Jurubatuba; outro que surge em Botucatu, se encontra no Estado do Paraná, após cruzar o Tibagi, com o caminho que começa em Cananéia; e, finalmente, um outro ramal, ainda maior, surge desde perto da confluência do Tietê com o rio Paraná, no Estado de São Paulo, descendo retamente até o Extremo Oeste paranaense, onde, acima do curso do rio Piquiri, tem conexão com o caminho que vem de Cananéia, com o que demanda do Piquiri a Miranda. De observar que o interior paulista e mineiro eram habitados desde muito primitivamente, sendo assinalada, em Minas, a presença humana de um tipo negroide – representado pela mulher que foi apelada Luzia, datando de cerca de 11.000 anos BP, isto é, antes do tempo presente. Nas cabeceiras do rio Verde foram localizados e estudados 39 sítios arqueológicos, das Fases Sapucaí, Jaraguá, Itaci, sendo 35 deles de tradição tupi-guarani. Estudos de José Luiz de Morais e outros indicam, para a região do Paranapanema, uma grande predominância da tradição tupi-guarani, em relação às demais tradições subjacentes. E uma grande antiguidade para a ocupação humana naquela área planaltina, eis que a datação C-14 atingiu a marca de 4.650 BP, o equivalente, portanto, a cerca de 2.650 anos antes da Era Cristã. Em Santa Catarina, outro roteiro é assinalado no Vale do Itapocu, seja por estradas achadas ainda vestigialmente nas matas, seja porque, conforme amplos registros históricos, o próprio curso do Itapocu era usado como caminho. Como o rio é propício apenas para canoas e como o Adelantado espanhol Don Álvar Nunes Cabeza de Vaca trouxe consigo vinte e seis cavalos, é mais provável que estes animais, com boa parte da gente da comitiva, subiu por terra o curso do rio. É bem registrado que a partir de um ponto do rio Itapocu, o comandante castelhano ordenou se ganhasse a serra, pelo caminho antes explorado por Dorantes [Ou Dorandes; ou d`Orantes]; seguiam, assim ficou anotado por testigos, o mesmo roteiro pelo qual os guaranis, aí por 1924, guiaram o seu chefe Aleixo Garcia, que fora a guerrear os incas, numa expedição improvisada e que visava obtenção de ouro, prata, jóias e escravos. Ademais, João Sanches, o piloto de Cabeza de Vaca, enviou uma carta ao rei da Espanha, afirmando que subiram pelo Itapocu nessa expedição de Cabeza de Vaca, porque a região da Baía de São Francisco era desabitada, disse; claro que desabitada de índios que lhes servissem de carregadores. Isso significa, outrossim, que na belíssima foz do rio Itapocu, na região das atuais Lagoa da Cruz e Lagoa da Barra Velha, os hispânicos devem ter achado aldeias capazes de dar-lhes suporte nessa escalada da serra e nessa jornada tão arrojada. Estranho que  arqueologia de fato comprova que a região era bem habitada. Muitas são as notícias, antigas e recentes, sobre o Sistema Peabiru – pois prefiro apelá-lo assim -; e para exemplificar, observo que Pe. Antonio Ruiz de Montoya, no seu antigo livro “A Visão do Paraíso”, descreve o Peabiru como uma estrada de oito palmos, indo desde São Vicente, no litoral paulista, ao Paraná. Na verdade, porém, vai mais além; chega ao Império Inca na Bolívia e no Peru e dali, por caminhos daquele antigo Império, chegava ao Oceano Pacífico. Era, pois, um conjunto de estradas que permitia, já naqueles tempos, a travessia da América do Sul, desde sua costa leste à costa oeste. Colhi no livro de Oriental Luiz Noronha [v. Bibliografia], obra por demais mística, mas que tem também o seu valor, que no Estado da Paraíba, foi descoberta uma estrada de cerca de trinta quilômetros de extensão, possuindo ela um leito de 1,80 de profundidade. Estranho essa medição da profundidade. Não seria de largura? Se fosse de profundidade, equivaleria a uma vala mais funda que a altura de um homem médio. Faria as pessoas presas lá dentro e, ao invés de segurança, traria insegurança. Poderia nesse caso, não ser uma estrada, mas um canal cuja construção foi abandonada. Ou poderia ser o leito seco de um rio. Enfim, não tenho dados fidedignos a respeito da referida descoberta e sobre o que ela julgam os arqueólogos e geólogos, que são os que devem se pronunciar. Também colhi em Oriental Luiz Noronha que há em Minas Gerais os vestígios de uma estrada que, vindo das bandas da Mantiqueira, passa por Itamonte, Caxambu [Portanto, perto de Cambuquira, minha cidade natal], Conceição do Rio Verde, São Tomé das Letras, Carrancas, Luminárias, Itutinga, daí saindo ramais para São João del Rey. Aliás, li artigo arqueológico escrito por Ondemar F. Dias Jr., dentro do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA -, justamente a respeito de estradas pré-colombianas servindo tribos indígenas das cabeceiras do rio Verde, no Sul de Minas, portanto, na região apontada por Noronha. E embora na região tenha havido um convívio intrusivo da gente tupi-guarani com o povo gê, foi não obstante aos tapuias que o referido pesquisador atribuiu tais caminhos. Também registrou Noronha que, quando o bandeirante paulista Lourenço Castanho Taques (São Paulo, 1608- 1671) moveu guerra e derrotou aos cataguases na região de São Tomé das Letras, Minas Gerais, aqueles índios, que se refugiaram nas grutas ali existentes, entregando-se ao vencedor, indagados por ele da autoria das inscrições rupestres – as itacoatiaras, isto é, pedras riscadas; pedras escritas -, responderam que tinham sido feitas por Sumé [Noronha, opus cit., p. 134]. Também disse Noronha que remanescentes dos índios Amoipirá, grupo habitante do sertão da Bahia, lhe disseram que Sumé se recolhera numa caverna, a um mundo onde ninguém morria jamais; e que chegar até ali era a meta do povo tupi. A caverna em questão jamais foi encontrada, porém, desses fatos, diz, também os aimorés e botocudos deram testemunho [Opus cit., p. 135].

3 .        André Prous, na sua ótima “Arqueologia Brasileira”, opina que as estradas utilizadas pelos tupis e guaranis, visavam, talvez, fins militares, permitindo o deslocamento estratégico, com a comunicação dentre suas comunidades esparramadas, unindo, por exemplo, mesmo as muito distanciadas, como as do litoral com as do Chaco. E estranha que elas cortem mesmo terras de povos hostis aos tupi-guarani. Ora, justamente eu tenho o pensamento oposto, de que eles, tupis e guaranis, caminhavam beirando os rios e dominando a estes, até porque eram um povo de canoeiros excelentes. Outros povos, para evitar conflitos com tais e belicosos vizinhos, tendo ou não construído tais esquisitos caminhos, os peabirus, os usavam para evitar contatos perigosos. De fato, observo que os peabirus foram construídos para deliberadamente evitarem o contato com os grandes rios e os afluentes maiores; isso pode permitir a indução de que a construção de tais caminhos veio a ocorrer, ainda que progressivamente, mas sempre depois de quando os tupis e guaranis – e eventualmente, outras nações poderosas – já tinham se assenhoreado dos rios; a contrario sensu, era esperável que os edificadores de tais caminhos buscassem, contrariamente, construir a curta distância dos leitos fluviais. Verdade que uma curta distância deles é necessária, em razão das cheias e exames arqueológicos de sítios marginais o demonstram. Isso era observado generalizadamente por gentes de todas as tradições culturais. Todavia, já um afastamento tão grande de suas águas, mesmo de dezenas de quilômetros, ainda mais que sendo coisa tomada como regra e na intenção clara e objetiva de manter-se equidistantemente longe dos rios, isso induz a que se quis, é evidente, evitar os habitantes dos rios. Outrossim, tal uniformidade de evitação, do mesmo modo que uma certa uniformidade de técnicas segundo as circunstâncias, reforça minha idéia da unidade de engenharia, ou seja, os peabirus foram abertos, na sua maior parte, por um único e mesmo povo; no mínimo, se foram vários, as circunstâncias de risco na proximidade das águas parece ter sido similar para todos: presença de ribeirinhos agressivos, belicosos. Relembro aqui a observação de André Prous, no sentido em que os tupis e guaranis foram no passado um povo tipicamente de navegadores fluviais, indo em migrações massivas pelos rios. Não afirmo a unidade do construtor, porque não sei se esses vários ramais do Peabiru têm datações diferentes. Seria necessário, antes, fazer exames arqueológicos neles, colher datações, mais claro levantamento dos recursos materiais e das técnicas empregadas. Também seria possível que os guaranis, assegurando para si o domínio fluvial nos rios e afluentes mais importantes e mesmo mais estratégicos, se pusessem a, em seguida, procederem a caminhos interioranos, interligando também por terra as suas distintas comunidades, assegurando também por terra mais rápido contato dentre as mesmas. Isso poderia conduzir à compreensão de um plano estratégico amplo e continental da parte dos referidos índios. No fim das contas é preciso considerar que os tupis e guaranis, mesmo afirmando que não foram eles os edificadores e sim Tomé/Sumé, estariam de todo modo afirmando, implicitamente, que tais caminhos eram uma dádiva deles, uma herança a eles deixada por Tomé a eles, tupis e guaranis; que por isso usavam tais caminhos, deixados a eles por Pay Tomé; não negavam fossem os possuidores; ademais, é possível que os tupis e guaranis, respondendo às velhas indagações sobre quem os autores do caminho, apenas negaram que fossem eles, índios contemporâneos da chegada dos europeus, porém, poderiam atribuir a obra a seus ancestrais, pois, quando apontaram o construtor como Pay Tomé, Pay Some, estavam desse modo atribuindo tal obra de engenharia a um dos seus heróis do passado, a um dos seus mitos das origens, denominado Sumé e que há muito é objeto de estudos pelos tupinólogos.

Esses peabirus existem por toda parte. Na Bahia são apelados mairapés, isto é, os caminho de Maíra e, significativamente, este é um herói mítico dos tupi-guarani, sendo que ao tempo da conquista européia, esses índios passaram a apelar maíras aos homens brancos, aos estrangeiros, particularmente aos franceses e mesmo preferentemente a qualquer estrangeiro que fosse loiro. Em 1970 os arqueólogos Igor Chmyz e Z. Sauner, visitando um ramal secundário de um desses caminhos, sito dentre Erveiras e o curso do rio Piquiri, toparam ali com ele e seguiram-nos por cerca de trinta quilômetros. Nos trechos ainda cobertos de mata, os vestígios eram perfeitamente visíveis. A trilha, registrou Igor, possuía 1,40 m de largura, por 0,40 de profundidade; e disse que, devido ao pisoteamento do terreno, não foi possível constatar qualquer revestimento do leito primitivo de tal caminho, no qual a terra se encontrava compactada. Também no município de Itapiranga o arqueólogo Pe. João Alfredo Rohr, S.J. topou com um trecho de estrada, talvez peabiruano, com cerca de um quilômetro. Ali, porém, era obra mais larga, pois tinha quatro metros de margem a margem, disse Rohr. Dirigia-se para a fronteira da Argentina e da qual, para o caso, dista cerca de doze quilômetros. O arqueólogo referido não descarta a hipótese de que, pelo Peabiru, se pudesse comunicar com os Andes. Disse Rohr que indícios arqueológicos foram notificados por Bischoff, indicando um relacionamento cultural dentre Paraguai e Bolívia; inclusive narra Rohr a descoberta, no Rio Grande do Sul, de objetos de bronze, o que convida a uma origem andina de tais peças; e que Krone encontrou, em Cananéia, um machado de cobre, cuja análise laboratorial feita na Áustria trouxe a afirmação de que a origem de sua matéria prima é andina. Isso, é claro, não significa que os incas estiveram no Brasil, embora pudesse ter ocorrido; porque pode ser, isto sim, tupis os trouxeram dos Andes para sua região paulista. Além disso, algumas peças que se encontre aqui e ali poderão até mesmo ser provenientes do tesouro de Aleixo Garcia, desaparecido desde quando este foi morto no Paraguai. Luiz Galdino e Hernani Donato, em seus respectivos estudos, concluem que os peabirus foram construídos pelos incas. Contexto. Mas ambos recordam que o tupinólogo Luiz Caldas Tibiriçá encontrou no Mato Grosso do Sul – isso, perto da fronteira com a Bolívia – mais de um quilômetro de um caminho pavimentado, com quarenta centímetros abaixo do solo, com 1,80 m de largo.

4 .        Diz-se que um português, admirado de tais caminhos, indagou de um tupinambá, na região de Cananéia, ante o caminho que, do litoral, ganhava planalto acima: - O que é isto? E que, por resposta, o índio lhe disse: - Peabiru. E, indagado sobre quem o fizera, afirmou simplesmente: - Pay Sumé. E que o luso, então, fiel católico, julgou que o índio falava de São Tomé, o apóstolo cristão, que sabidamente fora pregar o Evangelho em terras distantes. Conta Hernâni Donato tal versão. Na verdade a pronúncia Sumé é errônea. Lusos e castelhanos foram incapazes de pronunciar o nome dado pelos tupis e guaranis ao dito herói mítico. A pronúncia indígena, nasalada, é para eles difícil. Ela deveria ser mesmo algo como Tzomé ou Tzumé. De todo modo, quase ao término do presente livro exponho, por razões que entendo absolutas, porque não poderia se tratar do santo cristão.

Das notícias velhas, Eurico Ribeiro, no seu belo livro “História de Guarapuava”, registra relato do Dr. Gentil de Assis Moura, no sentido em que um tal Diogo Nunes, indo de Piratininga até ao Paraguai e Peru, escreveu em 1539 a D. João III uma carta, falando dos sertões a que se podia chegar “por um caminho que ligava os portos do Atlântico (Cananéa e São Vicente) aos portos do Pacífico, no governo do Peru” [Opus cit., p. 21]. E narra Eurico Ribeiro que, indo a comitiva de Cabeza de Vaca pelos sertões rumo a Assunção, topou no caminho do Peabiru, no centro do atual Estado do Paraná, o indio cristão de nome Miguel, que se achava a caminho de São Vicente, regressando de uma viagem ao Paraguai [Opus cit., p. 21]. E embora nos pareça, agora distanciados no tempo, que fosse tal caminhada do índio rematada loucura, ainda mais se a sós, como parece ter acontecido, temos a lembrar que ele, pelo caminho, podia ter abrigo, pousada e refeição numa multiplicidade de tribos, máxime se sendo da gente tupi-guarani; mas mesmo se fosse de outras etnias, as encontraria. Também João Salazar – registra Eurico – veio do Paraguai, pelo Caminho do Peabiru; assim como o cruzou Braz Cubas e Luis Martins em 1562; e o soldado alemão Ulrich Schmidl; e João Sanches – que fora piloto de Cabeza de Vaca - e um grupo do qual participou. Aliás, Schmidl teve que abandonar o Peabiru para apenas retomá-lo muito mais além, para evitar índios belicosos no Paraná; e narrou que, certa feita, ele e seus poucos companheiros, com arcabuzes, travaram renhida luta com cerca de 6.000 índios, que tinham aprisionado dois espanhóis. O combate prosseguiu por quatro dias, diz Schmdl [Cf. Eurico Ribeiro, opus cit., p. 23/24].